“José reparou que estavam perturbados com qualquer coisa e perguntou-lhes: O que é que se passa com vocês?” (Génesis 40:6,7, OL). Há pessoas que infligem dor nos outros. Há pessoas que fogem da dor dos outros. E há pessoas que se envolvem com a dor dos outros. Jesus contou uma história onde refere estes três tipos de pessoas: os ladrões que infligiram dor numa pessoa, deixando-a quase morta. Os sacerdotes religiosos que passaram e se afastaram do homem em necessidade. O samaritano que passou, desceu do seu cavalo, tratou das feridas do homem caído, levou-o a uma estalagem e pagou para cuidarem dele até à sua completa recuperação. O que é marcante nesta história não é tanto a personagem dos ladrões. Todos esperam que eles façam o que fizeram, mesmo sendo reprovável. O que fez comichão nos que ouviram a história (e continua a fazer ainda hoje) é a postura dos sacerdotes religiosos. Não se envolveram com o moribundo porque de acordo com a lei, ficariam impuros e impossibilitados de ministrar no templo durante alguns dias. Como tal, entenderam que não poderiam sujar as mãos com a dor dos outros. E cometeram uma loucura maior do que os que fizeram o mal: não fizeram o bem. Martin Luther King protestou acerca disso: “O que me perturba não é o grito dos maus; é o silêncio dos bons”. Edmund Burke disse: “Tudo o que é necessário para o triunfo do mal é que os homens bons nada façam”. Não deixa de ser um paradoxo gritante e inaceitável: Vão a caminho do templo ensinar as pessoas a fazerem o bem, mas não o fazem. Não o fazem porque, caso contrário, não poderão ensinar. E deixaram de entender que o poder do ensino é o exemplo e que sem ele não há efetivamente ensino. Deixaram de compreender que se tivessem ajudado o homem, ficariam impossibilitados de ensinar verbalmente, mas ensinariam com o impacto e retórica que as palavras nunca alcançarão: as ações! Viviam para serem puros, mas perderam o poder de tirar outros da impureza. A pureza, tal como o amor, ou qualquer outra virtude, só tem valor enquanto pudermos influenciar outros a serem assim também. Caso contrário, a aparente virtude torna-se no pior defeito: a pureza torna-se exterior, cerimonialista, exclusivista, orgulhosa e condenadora (ou seja, deixa de ser pureza). O amor torna-se preconceituoso, condicional, conveniente e seletivo (ou seja, deixa de ser amor). E por aí em diante… O que faz com que a história passe de marcante a escandalizante é a identidade do personagem que se envolveu com a dor do maltratado: samaritano! Os samaritanos eram considerados (ou seria melhor dizer desconsiderados?), pelos judeus, a escória da sociedade, povo maldito, pessoas do mais baixo nível. É precisamente um samaritano que vai fazer o que as pessoas mais conceituadas na sociedade não fizeram. A lição subjacente a tudo isto fica clara: não importa a tua religião, a tua posição (ou falta dela), ou status (ou falta dele). Não importa tanto o que crês e o que falas. O que realmente importa é o que fazes. Mas há outra lição importante. O samaritano estava habituado a ser maltratado pelos judeus, a ser desprezado, a ser marginalizado, a experimentar a dor. Talvez por isso, ficou mais sensível à dor, mais empático para com o ferido, movido de compaixão pelo necessitado. As aflições nunca são em vão quando crescemos com elas, quando aprendemos alguma coisa delas, quando nos habilitam a consolar e curar outros que passam por elas.
0 Comments
Leave a Reply. |
Arquivo
September 2014
Categorias
All
|