«O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-carácter, nem dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons!» (Martin Luther King).
«Tudo o que é necessário para o triunfo do mal, é que os homens de bem nada façam.» (Edmund Burke). UMA ATITUDE DESTRUIDORA Existe uma atitude generalizada nos dias de hoje, que é das coisas mais negativas e destrutivas, ainda que não pareça. É o que leva um terço da população mundial a viver superfluamente enquanto assiste ao restante do mundo morrer à fome. É o que leva tantas pessoas a comerem a sua refeição comodamente enquanto veem milhares serem mortos em guerras noticiadas na televisão, como se de mais um programa de entretenimento se tratasse. É o que leva a vermos um sem abrigo a dormir nas ruas como se nada fosse. É o que leva a contactar com o choro e a miséria alheia como algo normal e evitável. É o que leva cada um a viver para si, a pensar só em si, sem se importar com os outros à sua volta. O dicionário português chama-lhe indiferença. Ela é muito subtil porque faz-nos acreditar que não é nada connosco, não temos nada a ver com isso e não é nossa responsabilidade. Quando somos alvo da mesma, é que percebemos como essa argumentação é falsa. Então ficamos magoados pelo facto das pessoas à volta não se envolverem na nossa necessidade, ou dificuldade; de nem ao menos mostrarem interesse, solidariedade, ou uma palavra de conforto. É a prova de que ela não é legítima; não é normal; não é neutra. Pode ser política ou democraticamente correcta, mas constitui, na verdade, um acto de terrorismo. Pior que fazer o mal, é não travá-lo quando isso é possível, ou amenizá-lo, ou minorá-lo pelo envolvimento e esforço. O que mais destrói uma sociedade, organização, ou família, não é os que estão contra; são os que procuram ficar neutros. Os indiferentes. Os que nada fazem, não querem fazer e não querem saber de quem faz. «O mundo é perigoso não por causa daqueles que fazem o mal, Mas por causa daqueles que olham para isso sem fazer nada. Está nas nossas mãos a construção do mundo. Espalhar a luz à nossa volta. Torná-lo um lugar melhor.» (Internet: Pravs World: Spread Light) LAVAR AS MÃOS Houve alguém que expressou essa atitude de uma forma muito hipócrita. Quando diante de alguém que estava a ser perseguido, julgado injustamente e maltratado cruelmente, lavou as suas mãos. Ele tinha autoridade e poder para acabar com essa injustiça, com esse sofrimento infligido pela maldade. Mas não o fez. Não seria um ato popular, nem vantajoso. Consentir nesse mal também não. Então optou por aquela via que muitos ainda pensam ser segura: a da neutralidade. Lavou as suas mãos e entregou o perseguido para fazerem o que quisessem. LAVAR OS PÉS Pelo contrário, o personagem que estava a ser perseguido, momentos antes, quando estava com os seus amigos, sendo o seu líder e mestre, fez aquilo que era costume os escravos fazerem: lavou-lhes os pés. Envolveu-se com a sua sujidade, removendo-a, ainda que para isso tenha-se humilhado, curvado, sujado e transpirado. Depois de ser entregue nas mãos dos mal intencionados, continuou a “lavar os pés”. Lavou os pés dos que lhe infligiam o mal, orando: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Lavou os pés de um criminoso que estava ao seu lado, dizendo-lhe: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Lavou os pés de uma mulher que tinha perdido o seu marido e agora estava a perder o seu primogénito, instruindo alguém: “Eis aí a tua mãe”. Lavou a humanidade de toda a sua sujidade, de todas as suas misérias, de todo o seu pecado, quando os cravos perfuraram a sua carne e o seu sangue foi derramado. Ele podia ter lavado as mãos; podia ter desistido da humanidade; podia ter-se vingado das suas criaturas. Seria mais cómodo. Escaparia ao sofrimento. Seria até legítimo. Mas não o fez. Ao contrário, lavou os pés. Serviu todos à sua volta e deu a sua vida em resgate. ATO ÚNICO OU EXEMPLO DE ESTILO DE VIDA? Jesus, na sua atitude de lavar os pés, foi claro acerca de uma coisa: o que Ele fez não era para ser ato único, exclusivo e admirado do Mestre. Ele ensinou depois do ato: “Agora que sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes”. Era para ser imitado; era para ser seguido. E isso não se traduzia em ser inferior, em ser perdedor. Na realidade Jesus estava a apontar o caminho da verdadeira felicidade e dos incontestáveis vencedores: “bem-aventurados…”. O cristão não pode lavar as mãos para o que se passa no mundo à sua volta enquanto canta comodamente que não pertence aqui e vai para o céu. O cristão não pode lavar as mãos em relação às trevas espirituais que o cercam. Biliões nunca ouviram falar de Jesus e outros biliões acreditam coisas absolutamente erradas acerca dele. O cristão não pode lavar as mãos em relação à pobreza. Mais de metade do mundo vive com menos do que dois euros por dia; 1,3 biliões de pessoas no mundo não dispõe de água potável; uma pessoa em cada sete padece fome no mundo; 11 mil crianças morrem de fome a cada dia. Provérbios 28:7, na Tradução NVI, diz: “O justo preocupa-se com a justiça para o pobre, mas o ímpio não tem tal preocupação”. O cristão não pode lavar as mãos para com os doentes, necessitados, destroçados, desesperados e até para com os que orgulhosamente se declaram auto-suficientes. O servo não é maior do que o seu senhor. O cristão é chamado, à semelhança do seu Mestre, a dizer não à indiferença, à insensibilidade, ao comodismo, à conveniência e ao individualismo mórbido e a lavar os pés dos que estão à sua volta. DUAS ATITUDES, UMA DECISÃO Pilatos, o homem que lavou as mãos, diz a história que começou a ter perturbações mentais graves, foi afastado do seu cargo de governador romano e morreu miseravelmente. Jesus, o Deus feito homem que lavou os pés, foi exaltado soberanamente e foi-lhe dado um nome que é sobre todo o nome, para que ao Seu nome se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra e toda a língua confesse que Ele é o Senhor para glória de Deus Pai (Filipenses 2:9-11). A escolha de qual a atitude a tomar continua a ser o nosso desafio: Vamos dar lugar à indiferença e lavar as mãos, ou vamos dar lugar ao amor e sujar as nossas mãos, lavando os pés dos outros? «Que não sejas uma vítima. Que não sejas um perseguidor. Mas acima de tudo, que não sejas um espectador.» (Museu do Holocausto, Washington, D.C.). [Escrito em 28/10/2009]
0 Comments
|
AUTORNasceu em Lisboa. Histórico
February 2023
Categorias
All
|